terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A erudita


Chamavam-na de "a erudita", pois, segundo as línguas ociosas, estava sempre com um livro nas mãos. - E não é qualquer um. - explicava-me a moça da lojinha - mas os melhores!
- Reparastes em sua leitura?
- Sim. Esta semana está lendo "Os melhores contos de Eça de Queirós...
Sorri divertido:
- Conheço o moço.
- É bonito?
- Pode ser. Mas de qualquer forma, está morto.
- Morto?
- E vivo também.
Ela me fixou os olhos por um instante, depois deu-me as costas, perguntando:
- O senhor quer mais alguma coisa?
- Não! - Respondi prontamente. E pensei em Eça, sendo colocado assim: meio lá, meio cá... Bom, ele compreenderia.
Mas e a erudita? Como ficará quando todos souberem que gosta de ler mortos-vivos?
Saí da loja perturbado. Acendi um cigarro e fui às ruas procurar por ela.

Um comentário:

J Alexandre Sartorelli disse...

Todos os escritores vivos morrerão. Todos os mortos já viveram.
O que o leitor tem a ver com isso se o que importa é o livro?